ISSN

ISSN: 2359-0211

2014 - Mesa 1

Debatedora: Graziele Cristina Dainese de Lima (Pós-Doc - PPGAS/MN)



Violências que poluem, violências que legitimam: Jogos de sombra e luz na gestão das narrativas de lideranças mulheres em processos de luta por territórios e recursos naturais
Marta Antunes [4º ano do Doutorado]
Resumo: O tema da violência vem adentrando as narrativas de trajetórias de vida e de luta das lideranças mulheres com quem me relacionei, e relaciono, nos diferentes locus de pesquisa etnográfica. Esse tema não era meu foco de pesquisa. Pesquisava sobre a forma como povos e comunidades tradicionais acessavam e geriam recursos fora do enquadramento da propriedade privada: as quebradeiras de coco babaçu do Médio Mearim e a comunidade quilombola de Conceição das Crioulas. Mas é impossível ignorar essas questões informadas por e formadoras de gramáticas de gênero, trabalhando com duas “comunidades” em que as lideranças mulheres tiveram e têm um papel simbólico tão significativo na memória do processo de luta e na construção das narrativas sobre identidade. Discuto como a violência adentra as narrativas de luta e conquista dessas mulheres, e suas comunidades, e como essa violência é exibida num tipo de performance política e ocultada em outra. Ser alvo de violência enquanto mulher é visto como algo que desqualifica a liderança mulher, algo que polui a trajetória da mesma, enquanto que ser alvo de violência enquanto liderança que luta pelos direitos de sua comunidade é valorizado e neste caso o gênero da vítima desaparece.
Palavras-chave: Narrativas; gênero; violência

Política, pesquisa e espiritualidade afro: o caso da Red de Ananse
Luis Mesa Alvarez [1º ano do Doutorado]
Resumo: Nessa apresentação tento traçar os envolvimentos de um grupo de docentes, pesquisadoras, ativistas e mães com variados espaços de ação social (escola, universidade, movimento social afro-colombiano) e seus vínculos com uma espiritualidade afro (afro-cubana e afro-colombiana), como centro de seus posicionamentos ético-políticos. A Red de Ananse é uma organização sediada em Bogotá (capital da Colômbia) que se define como sendo uma associação de docentes pesquisadoras que realiza ações para combater o racismo e a discriminação racial nas escolas. Essas atividades, consideradas por elas como sendo políticas, encontram na prática religiosa/espiritual uma referência ética, de poder e de resistência negra/afro. E essa referência ética ganha cada vez mais centralidade no processo de luta como organização que mantém vínculos com variados e muito diferentes espaços de ação, que, ao mesmo tempo, são campos de disputa: o movimento social afro-colombiano, as instituições educacionais (escola e universidade), as organizações gremiais, outros grupos que trabalham com a política educativa intercultural, e o universo espiritual/religioso afro (afro-cubano e afro-colombiano) em Bogotá. 

Palavras-chave: Política, pesquisa, espiritualidade afro.

Reflexões sobre a pertinência de estudar as construções das identidades indígenas desde os lugares das mulheres, a partir de estudos de gênero e do feminismo pós-colonial
Maria Rossi Idárraga [3º ano do Doutorado]
Resumo: A reflexão proposta começa revisando a noção de gênero como marco de reflexão crítica tanto para refletir sobre as desigualdades quanto para questionar a construção de subjetividades marcadas pelo gênero, e no contexto da pesquisa, por diferentes noções dos gêneros possíveis, quer dizer, por noções de homem e de mulher incompletas, contraditórias e difusas. Continua apresentando algumas questões sobre a relação entre gênero e representação, úteis para pensar outras formas de representação política da identidade, concretamente as políticas de representação da etnicidade. Posteriormente, reflete sobre a constituição de subjetividades em contextos pós-coloniais; e recupera propostas de feminismos pós-coloniais, aproveitando como essas perspectivas atentam para a multiplicidade de referentes nos processos de constituição e articulação de identidades indígenas e para os elementos conflituosos e contraditórios com os que têm que lidar diferentes identidades indígenas. Para terminar, volta à relação entre gênero e antropologia para pensar desde a proposta de Lila Abu Lughod (1991) como a antropologia pode contribuir contra a essencialização da cultura e das diferenças e servir para pensar a complexidade da construção e permanente atuação de diferenças.
Palavras-chave: feminismos pós-coloniais, gênero, representação da etnicidade

Sobre a "unidade de lutas": os "encontros" de movimentos sociais enquanto rituais políticos
Marcela Rabello de Castro Centelhas [2º ano do Mestrado]

Resumo:  A partir da década de 1980, alguns autores sinalizam para um processo de pluralização dos movimentos sociais no campo brasileiro. Esse mesmo processo é acompanhado, no entanto, pela intensificação de uma modalidade de organização política destes mesmos movimentos rurais que são os “encontros”. Estes eventos estão relacionados com a construção daquilo que os integrantes destes coletivos chamam de “unidade de lutas”. Geralmente quando analisada enquanto problema sociológico e/ou político, a “unificação” das lutas sociais é associada ao mecanismo formal de produção de consensos em espaços deliberativos. Com isso, acaba não se observando como essa “unidade” ou “articulação” são produzidas, alteradas, praticadas, percebidas e sentidas nos contextos vivenciados. Buscando dar conta dessa dimensão, tomaremos estes “encontros” enquanto rituais políticos, isto é, como momentos que se destacam do cotidiano por gerar intensificação da vida social e nos quais ação social e cosmologia estão intimamente relacionadas. Para tanto, situaremos esses “encontros” dentro do processo histórico de “pluralização” - “unificação” das organizações rurais, bem como discutiremos alguns dados etnográficos de “encontros” acompanhados.
Palavras-chave: movimentos sociais; rituais; política