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ISSN: 2359-0211

2015 - Mesa 7: Ciência, Saberes e Epistemologias

Debatedores: Marcos Carvalho (PPGAS/MN) e Marina Nucci (IMS/UERJ)


As “mães más” contra o Estado. Das formas de criar pessoas sob o escrutínio de Cientistas, Gestores e dos “homens de bem”
Camila Fernandes - PPGAS/MN


Resumo: Esse trabalho parte do projeto de tese em desenvolvimento no PPGAS\MN que se constrói a partir de algumas figuras femininas da periferia. Entre algumas dessas figuras de escrutínio, se encontram as “mães más”, a saber, mulheres conhecidas por bater, humilhar e castigar crianças na educação e no cuidado destas. A partir de etnografia realizada no complexo de favelas do São Carlos\Mineira (Zona Norte do RJ) busco apresentar sobre que bases relacionais se dão as intensidades entre mães e filhos, nas quais, as palmadas, gritos e surras se apresentam a partir de categorias de saber e poder, matizadas por condições específicas de double-bind, precariedade de recursos sociais e uma forte política de culpabilização individual na maternidade. A relação de mulheres e crianças nas periferias é atravessada por fantasmas como “a lei da palmada” que cumprem um papel singular na coerção de algumas práticas, mas que ao mesmo tempo, são fortemente criticadas por esses familiares. Essas leis, junto aos dispositivos de Estado - que materializam esses valores - são alimentados por saberes científicos ou supostamente científicos feitos a partir de um conjunto de políticas que mostram, mais uma vez, como a “Ciência” alimenta a Política, num fluxo contínuo que atravessa e perturba a vida de mulheres e crianças de maneira acrítica e colonizadora. 

Palavras-chave: Bater e apanhar, culpabilização, Biopolítica.


Patologização do amor: tecnologias de cura e suas medidas de normalidade
Francine Tavares - PPGCOM/UERJ 


Resumo: A proposta deste trabalho é refletir sobre as medidas que escapam da “normalidade” no discurso sobre a patologização do amor e as alternativas que estão sendo desenvolvidas para a cura do sofrimento proveniente das relações amorosas a partir da matéria da “IstoÉ”, “O amor pode ter cura”, de abril de 2014, e do artigo de Brian Earp sobre a biotecnologia anti­amor. Além dos tratamentos terapêuticos para esse fim, comuns desde o início do século XX, a biotecnologia “anti­amor” permite acelerar o processo de cura com uma droga que promete apagar as experiências ruins daqueles que “amam demais”. Numa espécie de realização farmacológica do sonho futurista ficcionado no filme “Um brilho eterno de uma mente sem lembranças”, o sofrimento, outrora considerado potencializador da criatividade humana e inerente às relações amorosas assim como à vida, não encontra espaço­tempo na economia do amor “moderno”. Atualmente, a medida do amor, e das emoções de maneira geral, é calculada aos moldes do mercado: qual é a utilidade do que você está sentindo? Esse sentimento ajuda ou atrapalha seu projeto de empreendimento de si? Seu perfil emocional está de acordo com o programa de liderança da sua empresa? Você sabe como se manter emocionalmente saudável?

Palavras­-chave: amor, patologização, tecnologias de cura


O universo feminino Terena: práticas e saberes tradicionais da mulher
Lindomar Lili PPGCS/PUC-SP


Resumo: O presente trabalho propõe discutir as práticas e os saberes tidos como milenares entre os Terena, em especial, as mulheres. Os Terena, reconhecidos como vindos de tronco linguístico Aruak e de subgrupo Guaná, habitam as regiões dos estados de: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Povos de origem chaquenha, mantem sua tradição no tocante aos saberes tradicionais no uso das ervas medicinais para o tratamento, tendo como o foco maior o tratamento ginecológico à saúde da mulher. É neste contexto que as mulheres realizam seus papéis sociais estendendo-se para as atividades comunitárias. As Terena são as grandes responsáveis ao uso, à prática e ao acervo das ervas medicinais como mecanismo de intervenção e a cura, bem como para a manutenção de sua tradição. Junto a esse papel, elas também desempenham outras funções, tais como o trabalho com o parto natural, desde o pré-natal ao pós-natal junto com a criança. Neste cenário de atuação, preservam ricamente as tradições no campo de exclusividade: o ritual do canto, o fazer a cerâmica, o trabalho do cultivo com a terra e seus produtos para comercialização. A este último papel desempenhado, elas atuam paralelamente com os homens, como fonte de renda complementar.

Palavras-chave: Mulher Terena – Saberes – Tradição.


A competência de edificar dos “homens-memória” e as casas de taipa na comunidade de Canárias
Luiza de Albuquerque Leite Vieira - PPGAPM/UFPI


Resumo: Neste trabalho apresento uma revisão teórico-metodológica da noção de Patrimônio, tendo, como eixo central da discussão, recentes acepções e limites deste conceito. Neste debate, ainda se somam outros aportes teóricos necessários para o desenvolvimento de uma investigação afinada com a natureza interdisciplinar de minha pesquisa-ação, que envolve áreas tão diversas quanto Antropologia, Arquitetura e Patrimônio. Esta investigação se realiza com base nas informações levantadas a partir de minha experiência etnográfica em campo, delimitado pelo território da comunidade de Canárias, um dos cinco povoados da Ilha de Canárias, uma das maiores ilhas que compõe o complexo do Delta do Parnaíba, área de Reserva Extrativista localizada entre os Estados do Piauí e Maranhão. A partir deste reconhecimento, abordo a problemática patrimonial vinculada ao meu objeto de estudo, qual seja, o vínculo entre os “taipeiros” da localidade e suas técnicas de construção tradicional em terra crua e aponto possíveis caminhos para solucionar adversidades construtivas reveladas pelo trabalho de campo, a partir da contribuição do conhecimento e prática da área da Bioconstrução e da Bioarquitetura.

Palavras-chave: saber-fazer, bioconstrução, patrimônio


Identificação e classificação racial no Brasil: o caso da banca de verificação da autodeclaração racial no programa de cotas do vestibular da UFPR
Marcos Silva da Silveira - PPGAS/MN


Resumo: Em 2004, na 28a reunião anual da ANPOCS, o tema das cotas raciais esteve presente na terceira sessão do ST 11, “Formação do Estado e Construção da Nação”, coordenados por Antonio Carlos de Souza Lima. Foram apresentados o trabalho de Marcos Chor Maio e Ricardo Santos, da FIOCRUZ e o de Ciméa Bevilacqua, da UFPR, que apresentou uma etnografia do processo decisório realizado no COUN/UFPR, criando o programa de cotas vigente naquela universidade até a nova lei federal. O texto de Maio e Santos no ano seguinte seria republicado em “horizontes antropólogicos no 23”, num dossiê, com uma série de comentadores, dando inicio a um debate antropológico sobre as cotas raciais, a partir do caso da “banca racial da UNB”. O dossiê terminava com uma tréplica dos primeiros autores, “ A cota racial e os horizontes da antropologia”, iniciado com referências a banca de autoverificação da autodeclaração racial da UFPR. Pretendo retomar este debate inicial a partir de experiência junto à banca da UFPR nos anos de 2009 e 2010, no ponto mais discutido neste debate, o papel de um antropólogo dentro deste processo e as possíveis questões que podem ser levantadas a partir desta experiência, um debate bem presente na pesquisa antropológica.

Palavras-chave: raça; identidade; políticas públicas